Objetivos:
Conhecer a história da Escola de Annales e a contribuição de
seus fundadores.
Analisar a proposta da revista e o contexto de sua criação.
Compreender as principais críticas feita ao
grupo.
Introdução:
A Escola dos Annales foi um movimento de renovação
da historiografia iniciado na França do final da década de 1920, com a
fundação, por Marc Bloch e Lucien Febvre, da revista Anais de História
Econômica e Social. Como o próprio título denuncia, os dois historiadores,
inicialmente periféricos na academia francesa e que reuniram em torno de si
pesquisadores de outras áreas das ciências humanas, propunham uma escrita da
história que privilegiasse o econômico e o social em detrimento do político.
Se opondo diretamente à produção historiográfica
predominante no século XIX, a revista tornou-se um movimento de vanguarda na
renovação do método de investigação histórica, divulgando, entre outras coisas,
a concepção de uma história total que fosse desenvolvida a partir de uma
problemática (história problema) e que utilizasse interdisciplinaridade como
estratégia importante para se chegar ao conhecimento histórico.
A reflexão sobre o caráter das fontes históricas
também é outra contribuição da escola, a partir dela o conceito de documento
histórico será relativizado, no que tange a idéia de verdade e neutralidade, e
enriquecido a partir da incorporação de novas formas de fontes históricas, além
da escrita.
A Escola dos Annales: histórias e revoluções historiográficas
Desde o encontro entre Marc Bloch e
Lucien Febvre a historiografia nunca mais foi a mesma (BURKE, 1997), no
entanto, as variações de opinião acerca de como e o que mudou com o advento da Escola
dos Annales são muitas. O “montante” de paradigmas, afirmações e direções
permearam as três gerações desse movimento. Na verdade a grande contribuição
historiográfica dos Annales em sua primeira geração foi a possibilidade
de um diálogo entre a história e as ciências sociais, rompendo uma barreira
invisível e ao mesmo tempo sólida, legitimada por uma história tradicional,
factual, excessivamente preocupada com os acontecimentos advinda do século XIX.
(REIS: 2004).
A “história nova” empreendida por
Febvre e Bloch com a Escola dos Annales, começa a tecer suas redes de
conhecimento em contraposição a história tradicional “enraizada” nos grandes
homens e fatos, e que dessa forma, marginalizava muitos aspectos das
experiências humanas, entretanto para a “história nova”, toda vivência humana é
portadora de uma história. Partindo desta idéia que os Annales
construíram o sentido de “História total”. A
primeira geração dos Annales foi o ponto de partida para as novas
abordagens da história. Bloch em Les Reis Thaumaturges (Os Reis de
Taumaturgos) amplia o campo
historiográfico sobre o estudo do mundo rural, fazendo comparações entre a
França e a Inglaterra, algo novo do ponto de vista tradicional “acostumado” a escrever
sobre temas mais restritos.
Febvre objetivava uma pesquisa interdisciplinar com uma história voltada
para a problematização, entretanto em algumas obras
propunha uma homogeneidade de pensamento praticamente
“impossível”. Era preciso levar em consideração
os vários aspectos e diferenças humanas, seja ele homem, mulher, rico ou pobre.
O fato é que as diferenças existem na forma de pensar dos indivíduos, e não
levá-las em consideração é negligenciar outros campos relevantes.
Os pensamentos de Marc Bloch e Lucien Febvre se entrecruzaram na criação de uma revista. Assim, os Annales surgiu como nova
proposta no meio científico, contrariando a história política tradicional e
abrindo espaços para a história social e econômica. Nesse período são muitas as publicações concernentes aos referidos
temas. A revista dos Annales condensou os saberes e experiências de
Bloch e Fevbre, assim como suas críticas
a uma história tradicional, enraizada no modelo positivista. Mas, no que acreditavam os positivistas?
Que relação mantinham com o objeto da história? Qual noção tinham do
conhecimento histórico? Como destaca José Carlos Reis:
"Acreditavam os ditos
“positivistas”, parece, que isso era possível. Acreditavam que, se adotassem
uma atitude de distanciamento de seu objeto, sem manter relações de
interdependência, obteriam um conhecimento histórico objetivo, um reflexo fiel
dos fatos do passado, puro de toda distorção subjetiva. O historiador, para
eles, narra fatos realmente acontecidos e tal como eles se passaram. [2]"
Nessas conexões de dizeres e saberes, os
positivistas “amarram” o historiador a teias complexas e interrompem seu
processo criador. Em termos historiográficos o “cientista” positivista colhe
provas de suas falas, fechando suas conclusões objetiva e comprovadamente. Contrários a essas idéias, Bloch e Fevbre
se assemelhavam, delineando a primeira geração, aos seus modos. Com a morte
dos maiores representantes da primeira geração, Bloch e em seguida Fevbre, é
Braudel o sucessor e diretor efetivo dos Annales. Sua proposta inicial é
de renovação, conseqüência de conflitos internos ocorridos no período pós-morte
de Fevbre.
Proposta: Dar relevância à exploração do saber
inicial dos discentes no que se refere ao que faz o historiador e ao que é
História.
Referenciais teóricos:
FONTANA, Josef. “A reconstrução. III: a Escola dos Annales”. In:__. História:
análise do passado e projeto social. SP: EDUSC, 1998.pp.137-154.
BURKER, Peter. “Os fundadores: Lucien Febrev e Marc
Bloch”. In:____.A escola
de Annales. SP: UNESP, 1997.
- A Escola de Annales: segunda
geração: Fernand Braudel e a história quantitativa.
Objetivos:
Conhecer as principais contribuições do historiador Fernand Braudel
para o ofício do historiador.
Perceber a renovação historiográfica
possibilitada pelo uso de documentação seriada e desenvolvimento de método
específico.
Introdução:
Ao assumir a direção
da Annales, em 1959, Fernand Braudel imprimiu à revista a sua identidade. O
apreço pela geografia e pela longa duração de tempo está revelado em sua tese
“O Mediterrâneo e Felipe II”.
Braudel considerava a
“história dos eventos” superficial – a história política/militar revelada pela
narrativa seria limitada. O historiador deveria percorrer caminhos de tempo
mais longo a fim de entrar em contato com a estrutura social e econômica da
sociedade em questão.
Havia, também, o
privilégio da “História da Cultura Material” que deixava de lado importante
esfera da manifestação humana, o mundo simbólico, tão observado pela
Antropologia. Indo além, Braudel foi importante para a construção da
geo-história.
Em sua concepção o
estudo da relação entre o homem e o seu meio, seria de fundamental importância
para o entendimento de uma sociedade.
Concomitante à “Era Braudel”,
houve o nascimento da história quantitativa, sentida primeiro no campo da
história econômica, com a história dos preços, e, posteriormente absorvida pela
história social, particularmente pela história populacional.
A desestabilidade ameaçava a continuação de uma
revista que apesar de ampla, ainda guardava resquícios de centralidade
Bloch/Fevbre. Nesse sentido, o novo
“líder” propõe renovar o Annales, para isso recruta jovens historiadores
aptos a novas propostas, entretanto, também centralidade de pensamento e
discussões em torno de Braudel, embora a segunda geração não se resuma apenas a
ele. Nesse momento, a revista com suas produções acadêmicas ganha “ares” de
escola. Os jovens “recrutados” por Braudel formam um grupo, suas perspectivas
irão moldar a nova fase dos Annales.
O fato é que Braudel influenciaria toda uma
geração, os estudos que não seguiam suas perspectivas, em parte eram
influenciados. Com ou sem Braudel, a segunda geração foi mais que um
instrumento hierárquico da primeira, na realidade a constituiu na
institucionalização de uma escola, embora se conteste o que seria o Annales,
uma escola ligada a um paradigma? O
próprio Braudel discorda: “Os Annales, apesar da sua vivacidade, nunca
constituíram uma escola no sentido estrito, isto é, um modelo de pensamento
fechado em si mesmo”. (Apud: REIS, 2004, p. 70).[3]
Essa amplitude de discussão permeiam a idéia ou a
construção da mesma acerca da chamada “Escola” dos Annales. Se Braudel
não acreditava em modelos de pensamento dentro do ele mesmo criou, então a
idéia, as discussões, a fábrica de conclusões são apenas lapsos do que podemos
chamar de Escola dos Annales.
Se para ele a “Escola dos Annales” não
ocorreu no sentido simplista do termo, porque o recrutamento de jovens, numa
alegoria denotando o conjunto, unidade e reunião de idéias? Por que a
centralidade de pensamento em torno de si? Com ele, a segunda geração torna
possível uma continuidade do projeto dos Annales, uma experiência que produziu
suas descontinuidades. No mediterrâneo,
uma obra que valoriza as mudanças econômicas e sociais ocorridas a longo prazo,
está transposto suas idéias dialogando com a geografia, constrói uma
“geo-histórica”. Como afirma Burke (1997, p. 49): “A verdadeira matéria do
estudo é essa história do homem em relação a seu meio”, uma espécie de
geografia/história ou como Braudel preferia denominar uma geo-história”[4]. Sendo assim, “objetivo é demonstrar que
todas as características geográficas, têm a sua história, ou melhor, são partes
da história”.[5]
Constrói-se uma realidade histórica de espaços,
permanece o intuito e a prática da interdisciplinaridade tão exacerbada por
Fevbre. Outra importante contribuição de
Braudel foi à inovação no conceito de tempo, que para ele é manejado entre a
distinção de curta e longa duração, ou seja, os eventos históricos,
podem se dar em ampla ou restrita dimensão temporal. Neste caso, outro conceito
é fundamental, a noção de estruturas, que interage no decorrer desses eventos
com a categoria temporal.
Segundo Peter Burke (1997, p. 55), Braudel realiza
um movimento de “combinar um estudo da longa duração com o de uma complexa
interação entre o meio, a economia, a sociedade, a política, a cultura e os
acontecimentos”. Todos esses aspectos sedimentados por um controle que se tem
sobre sua figura em relação a seus discípulos. Sobre sua égide a história
dialoga com outros conhecimentos, narra a história quantitativa serial,
regional, demográfica, entre outras. Uma visão do todo, uma história global é
proposta, mesmo que Braudel destine suas inquietações para o problema da
liberdade individual. Seriam as coletividades coadjuvantes de sua escrita?
A Escola dos Annales tem na sua história o
marco de uma “revolução” historiográfica francesa (BURKE, 1997). O início do
século XX tem suas particularidades, os Annales são, portanto frutos de
seu tempo. Suas maiores contribuições
consistem no implemento da história-problema, da ampliação das fontes, do
enquadramento da história como “ciência humana e social”, através de uma
relação interdisciplinar, porém tudo isso motivado ainda por um ideal de
cientificidade..
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Quando a
Escola dos Annales foi criada em 1929, Fernand Braudel tinha apenas 27 anos.
Estudara História na Sorbone, lecionava História numa Escola da Argélia e
trabalhava em sua tese. Tese que se iniciara como um ensaio de História
Diplomática, de caráter bastante convencional, embora ambiciosa. Foi projetado
originalmente como um estudo sobre Felipe II e o Mediterrâneo, em outras
palavras, uma análise da política externa do soberano.
Era normal para Historiadores Franceses lecionarem em Escolas enquanto
escrevem suas teses, Lucien Febvre, por exemplo, ensinou em Besançon; Braudel,
durante 10 anos, ensinou na Argélia, experiência que lhe permitiu ampliar seus
horizontes.
Seu primeiro artigo importante publicado nesse período, tinha por tema a
presença dos espanhóis no norte da África. Era ao mesmo tempo, uma crítica a
seus predecessores no tema pela ênfase que havia atribuído aos grandes homens e
às batalhas; uma discussão sobre a "vida diária das guarnições espanhola,
e também uma demonstração da estreita relação, embora invertida, entre a
História africana e européia, isto é, quando estourava a Guerra na Europa às
campanhas africanas eram suspensas”.
A pesquisa foi interrompida quando Braudel foi contratado para lecionar
na Universidade de São Paulo, 1935-1937, período definido por ele, mais tarde,
como o mais feliz de sua vida. Foi no retorno de sua viagem ao Brasil que
Braudel conheceu Lucien Febvre, que o adotou como filho intelectual e o
persuadiu, de que o título da tese deveria ser realmente "O Mediterrâneo e
Felipe II" e não ao contrário.
Com o começo da 2ª Guerra Mundial, Braudel teve, por mais irônico que
possa parecer, a oportunidade de escrever sua tese. Permaneceu quase todos os
anos da Guerra como prisioneiro num campo perto de Lubeck. Sua excelente
memória compensou em parte a impossibilidade de recorrer às bibliotecas, tendo
rascunhado O Mediterrâneo em cadernos e os remetiam a Febvre, para
posteriormente os serem devolvidos. O Mediterrâneo é um livro de grandes
dimensões, fora dividido em três partes que exemplifica logo no prefácio uma
abordagem diferente do passado, primeiramente, há a História "quase sem
tempo" da relação entre o "Homem" e o ambiente; surge então,
gradativamente, a História mutante da estrutura econômica, social e política e,
finalmente, a trepidante História dos acontecimentos.
A parte mais tradicional, a terceira, parece corresponder à ideia
original de Braudel de sua tese sobre a política exterior de Felipe II.
Uma presença igualmente sentida em O Mediterrâneo, embora possa parecer
irônica, é a do homem que Febvre adorava atacar, o Geógrafo Friedrich Ratzel,
cuja ideias sobre Geopolítica ajudaram Braudel a formular as suas sobre um bom
número de temas, que variavam do império às ilhas.
Entre os Historiadores, o que influenciou mais Braudel, foi o
Medievalista Henri Pirenne, cujo famoso Mohamet et Chalemagne defendia que,
para compreender a ascensão de Carlos Magno, o fim da tradição clássica e a
construção da Idade Média, o Historiador deveria afastar-se da História da
Europa, ou da Cristandade; por outro lado, sua visão, ao estudar o Médio
Oriente Muçulmano, de dois Impérios rivais que se confrontavam através do
Mediterrâneo oitocentos anos antes de Suleiman, o Magnífico, e Felipe II, deve
Ter sido uma inspiração para Braudel.
Apesar de sua aspiração d atingir o que chamava de "História
Total", Braudel muito pouco tinha a dizer sobre atitudes, valores, ou
"Mentalidades Coletivas", mesmo capítulo dedicado a
"civilização". Nisso diferia enormemente de Febvre, apesar de sua
admiração pelo Le Probléme de J’incroyance.
Braudel pouco tem a dizer sobre honra, vergonha e masculinidade, embora,
como um bom número de Antropólogos demonstrou, esse sistema de valores tinha, e
ainda tem, grande importância no mundo Mediterrâneo, tanto do lado Cristão
quanto ao Muçulmano.
A insinuação de que o livro falha por não ser propor um problema seria
irônica se bem fundamentada, pois Febvre e Bloch insistiram na ênfase de uma
História voltada para problemas, e o próprio Braudel escreveu que "a
região não é o alicerce da pesquisa, esse alicerce é o problema". O único
problema, segundo Braudel, "é demonstrar que o tempo avança com diferentes
velocidades".
O Mediterrâneo recebeu uma crítica radical de um crítico Britânico (J.H.
Elliott). É provavelmente revelador que Braudel use em seus escritos, mais de
uma vez, a metáfora da prisão, descrevendo o homem como "prisioneiro não
somente do seu ambiente físico, mas também de sua estrutura mental".
Diferentemente de Febvre, Braudel não percebe a dupla face das estruturas, que
são, ao mesmo tempo, estimulantes e inibidoras. Contudo, também é justo dizer
que o preço pagp pela visão olímpica braudeliana dos assuntos humanos em
grandes espaços e longos períodos, é uma tendência a apequenar os serem
humanos, a tratá-los como "insetos humanos".
Para os Historiadores, é mais significativa a maneira pela qual ele
maneja o tempo, seu intento "de dividir o tempo histórico em tempo
geográfico, tempo social e tempo individual", realçando a importância do
que se tornou conhecido, desde a publicação do famoso artigo, como a Longa
Duração. A Longa Duração de Braudel pode ser curta em relação aos padrões dos
Geólogos, mas sua ênfase do "tempo geográfico" alertou muitos
historiadores. Contudo, permanece uma conquista pessoal de Braudel, combinar um
estudo na Longa Duração com o de uma complexa interação entre o meio, a
economia, a sociedade, a política, a cultura e os acontecimentos.
Segundo Braudel, a contribuição especial do Historiador às ciências
sociais é a consciência de que todas as "estruturas" estão sujeitas a
mudança, mesmo que lentas. Era impaciente com fronteiras, separassem elas
regiões ou ciências. Desejava ver as coisas em sua inteireza, integrar o
econômico, o social, o político e o cultural na História Total.
Durante quase 30 anos, da morte de Febvre em 1956 até sua própria em
1985, Braudel foi não apenas o mais importante Historiador Francês, mas também
o mais poderoso. Em 1949, no mesmo ano em que sua tese foi publicada, tornou-se
professor do Collége de France, e passou a acumular ao lado de Febvre, a função
de Diretor do Centre Recherches, na Ècole de Hautes Études.
Com a morte de Febvre em 1956, Braudel foi seu sucessor, tornando-se o
diretor efetivo dos Annales. As relações entre os dois "filhos" de
Febvre, Braudel e Mandrou, tornaram-se progressivamente menos fraternais, e
Mandrou demitiu-se de seu cargo de Secretário executivo da Revista em 1962.
Braudel decidiu recrutar jovens Historiadores, como Jacques Le goff, Emmanuel
Le Roy Ladurie, Marc Ferro, com a finalidade de renovar os Annales,
"renovar a pele", como dizia.
Braudel também sucedeu Febvre como Presidente da VI seção da École, em
1963, criou uma nova entidade dedicada à pesquisa interdisciplinar, a maison
des Sciences de I’home.
Sendo um homem de grande respeitabilidade e de personalidade dominante,
Braudel manteve sua poderosa influência, mesmo depois de sua aposentadoria, em
1972.
A influência de Braudel sobre algumas gerações d estudantes
pesquisadores também deve ser levada em conta. Pierre Chaunu, por exemplo,
descreve como as conferências de Braudel sobre a História da América Latina,
feitas logo após o seu retorno a França depois da Guerra, produziram-lhe um
"choque" intelectual que determinou sua carreira histórica.
Muitos outros historiadores atestaram o que deviam aos conselhos e
encorajamentos de Braudel durante o tempo em que escreviam suas teses.
Logo depois da publicação de O Mediterrâneo, Lucien Febvre convidou a
participar de um outro grande projeto. A ideia era escreverem uma História da
Europa, em dois volumes, abrangendo o período de 1400 a 1800. Febvre
responsabilizar-se-ia pelo "pensamento e crença" e Braudel ficaria
com a História da vida material.. Febvre ainda não escrevera sua parte quando
de sua morte em 1956, Braudel escreveu a sua parte em três volumes, entre 1967
e 1979, sob o título Civilization Matérelle Et Capitalisme.
Sua preocupação nos três volumes está mais ou menos concentrada nas
categorias econômicas do consumo, distribuição e produção, nessa ordem, mas ele
prefere caracterizá-las de maneira diferente. A introdução ao primeiro volume
descreve a História econômica como um edifício de três andares. No andar
térreo, está a civilização material, no andar intermediário, há a vida
econômica "calculada, articulada, emergindo como um sistema de regras e
necessidades quase naturais", no andar superior para não dizer
superestrutura, existe o "mecanismo capitalista", o mais sofisticado
de todos.
O primeiro volume é dedicado ao alicerce, isto é, lida como "velho
regime" econômico que permanece há quase 400 anos, esse livro exemplifica
o interesse permanente de Braudel para a Longa Duração.
Enquanto seus discípulos estudavam as tendências populacionais ao nível
das províncias ou, as vezes, de vilas, Braudel, caracteristicamente, tentava
apreender o todo.
Com relação ao espaço, Braudel em seus temas subverte as fronteiras
tradicionais da História econômica. Deixa de lado as categorias tradicionais de
"agricultura", "comércio" e "indústria", e
observa, substituindo as, "a vida diária", o povo e as coisas,
"coisas que a humanidade produz ou consome", alimentos, vestuários,
habitação, ferramentas, moedas, cidades... Dois conceitos básicos que trazem no
primeiro volume, um deles, "vida diária", o outro, "civilização
material".
Como sempre, Braudel mantém um fino equilíbrio entre o abstrato e o
concreto, o geral e o particular. Interrompe, aqui e ali, seu panorama para
focalizar um estudo de caso, incluindo uma "fábrica" agrícola, como
ele a denomina, no Séc. XVII. Já ocupada por especuladores. Braudel sempre teve
um bom olho para detalhes vivos.
Apesar de sua liderança carismática e de sua contribuição, o
desenvolvimento da Escola dos Annales nos tempos de Braudel, não pode ser
explicado apenas em função de suas ideias, interesses e influências. Os
destinos coletivos e as tendências gerais do movimento merecem também ser
examinados. Dessas tendências, a mais importante, de mais ou menos 1950 até
1970, ou mesmo mais, foi certamente o nascimento da História Quantitativa. Esta
revolução quantitativa, como foi chamada, foi primeiramente sentida no campo
econômico, particularmente na História dos preços. Da economia estendia-se para
História social, especialmente para História populacional.
Um último tema de Braudel
merece ser aqui analisado, a estatística. Ele recebia com entusiasmo os métodos
quantitativos empregados por seus colegas e discípulos. Fazia uso das
estatísticas ocasionalmente, especialmente na segunda edição ampliada de seu Le
Mediterranée, publicado em 1966. Contudo, não é parcial dizer que os números
são apenas decorações de seu edifício histórico e não parte de sua estrutura.
Num certo sentido, ele resistia aos métodos quantitativos da mesma maneira que
resistia à maioria das formas de História Cultural, o que o levara a descartar
o famoso livro de Burckardt, A Civilização da Renascença na Itália, por estar
suspenso no ar. Ele foi assim, de alguma maneira alheio a dois grandes
movimentos no interior da História dos Annales de seu tempo, a História
Quantitativa e a História da Mentalidade. É tempo agora de dirigirmos nossa
atenção sobre eles.
Proposta:
Dar relevância à exploração do saber inicial dos
discentes no que se refere ao que faz o historiador e ao que é História.
Referenciais
teóricos:
FONTANA, Josef. “A reconstrução. III: a Escola dos
Annales”. In:__. História: análise do passado e projeto social. SP:
EDUSC, 1998.pp.137-154.
BURKER, Peter. A escola de Annales. SP: UNESP, 1997.
- A Escola de Annales: terceira
geração: Jacques Le Goff e a multiplicidade de métodos.
Objetivos:
Apresentar e discutir as principais características
da 3a geração da Revista de Annales: a multiplicidade de métodos,
objetos e temas de estudo.
Introdução:
Após a saída de Braudel da presidência da revista,
ocupada, em seguida por Jacques Le Goff, pode-se falar de uma fragmentação ou
policentrismo do projeto de Annales.
Muitos historiadores migraram da base econômica
para o estudo das manifestações culturais, foram “do porão ao sótão”, como
afirmou Peter Burker.
O uso de fontes seriais foi incorporada a essa nova
proposta de história. Desenvolveram-se, por exemplo, o estudo da alfabetização
na França entre os séculos XVI e XIX e o estudo da descristianização da
França a partir do levantamento dos rituais funerários.
Ao mesmo
tempo, houve o retorno e a renovação da História Política, com a incorporação
da longa duração, do uso de fontes seriadas e do diálogo com outras
disciplinas, principalmente a Antropologia, que ajudou na construção do
conceito de cultura-política.
Houve o resgate do valor da narrativa e do estudo
biográfico.
A terceira geração traz uma fase marcada pela
fragmentação e por exercer grande influência sobre a historiografia e sobre o
público leitor, em abordagens que comumente chamamos de Nova História ou
História Cultural.
Proposta:
Dar relevância à exploração do saber inicial dos
discentes no que se refere ao que faz o historiador e ao que é História.
Referenciais teóricos:
FONTANA, Josef. “A reconstrução. III: a Escola dos
Annales”. In:__. História: análise do passado e projeto social. SP:
EDUSC, 1998.pp.137-154.
BURKER, Peter. A escola de Annales. SP:
UNESP, 1997.
A Escola dos Annales: a crítica
Objetivos:
Apresentar e discutir as principais críticas feitas
à Escola de Annales: a não incorporação do político como esfera importante para
o entendimento de uma sociedade; a defesa de uma ciência empírica; negação à
filosofia da história; a despolitização.
Introdução:
François Dosse é um
dos principais críticos da supremacia da Escola de Annales na produção
historiográfica do século XX.
Em A História em
migalhas, publicado no final do século XX, Dosse revela as principais
limitações desta linha historiográfica. Suas críticas recaem, por exemplo, na
deficiência gerada pela desconsideração da política e por conseqüência, no
privilégio do econômico-social e na ausência de uma proposta filosófica de história.
Para o autor, a
produção intelectual do grupo estaria prejudicada por não ser capaz de
correlacionar diferentes eventos e processos históricos. Ao se dedicar à
história das pessoas comuns, do cotidiano, das mulheres, dos imigrantes, etc,
Annales produziria uma “história em migalhas” pouco elucidativa.
Já Josef Fontana, critica duramente a
despolitização da história e dos historiadores dos Annales. O não
comprometimento com a política atual e com propostas de mudança social levaram
ao desenvolvimento de uma história conservadora e pouco reflexiva.
Ver: DOSSE, François. A história em
migalhas: dos Annales à Nova História. São Paulo: Edusc, 2003.
- A História em
Migalhas de Dosse -
|
A
História em Migalhas
A abordagem adotada pelo autor François Dosse no livro "História em Migalhas", publicado no final do século XX (e reeditada em 2003), representou uma verdadeira reviravolta no mundo da História. A negação às críticas de Dosse refletiam a tentativa de supremacia da Escola dos Annales, lançada 9 meses antes da explosão mundial representada pela quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929. Naquele momento, a Escola dos Annales se apresentava ao mundo científico como a única e original saída para uma nova História. Toda a teoria que embasou os Annales cai por terra na narrativa desse autor, que se empenhou em demonstrar todas as formas mutantes que a tradicional escola apresentou até sua 3ª geração. A Escola dos Annales François Dosse explicita em sua obra, de forma clara e evolutiva, as diferentes posturas e adaptações da Escola dos Annales desde sua primeira geração, onde seus fundadores, Marc Bloch e Lucien Febvre, propõem uma ciência empírica, sem dogmas, uma verdadeira "guerra em movimento", com total negação à filosofia da história e seu aspecto positivista, típico do século XIX. Mas não apenas isso, a escola se propunha a uma abordagem que não fosse principalmente política. Dentro do contexto histórico, os anos 30 do século XX se destacavam, a princípio, pelo aspecto econômico, que passou a suplantar o aspecto político, levando até mesmo a se medir o sucesso político em função do desenvolvimento econômico e não mais o inverso. A História que nascia no berço da religiosidade da Idade Média, passa, com o desenvolvimento das cidades, a ser escrita por monges contratados pelos reis, como foi o caso de um monge de Saint Michel, no século XV. Posteriormente, a história tornou-se política, permanecendo dessa forma até o século XX. Segundo o autor, os membros da Escola dos Annales se apoderaram de todos os lugares estratégicos de uma sociedade dominada pelos meios de comunicação de massa. Falava-se agora do cotidiano de pessoas comuns, de mulheres, de imigrantes, etc. Havia uma procura de identidade, pois a sociedade não desejava ser órfã e sai em busca de suas origens. Três tentativas: Durkheim, Vidal e Henri Berr A proposta da Escola dos Annales conseguiu se manter ao longo do tempo, mas antes mesmo de ser criada, aconteceram três tentativas de construção de unicidade de uma ciência social. Entre elas encontravam-se: a Escola Durkheimiana, a Escola Geográfica de Paul Vidal de la Blache e a Escola de Henri Berr (com o tratado de Sigmand). Quanto à primeira tentativa, podemos destacar que Émile Durkheim, que seria posteriormente o relator da Escola dos Annales, foi justamente o que propôs a submissão da história às ciências sociais, o que não foi aceito na época pelos historiadores, já que levaria ao risco de perda da identidade da própria classe. Não conseguindo seguir avante com suas idéias, a sociologia não se sobrepôs às ciências tradicionais e só veio a ter seu instituto criado na França em 1924. Fato este que foi observado por um dos fundadores dos Annales, servindo, assim, de base para o não estabelecimento do ramo da sociologia como campo de atuação determinante no embasamento da escola a ser criada. No caso da escola geográfica de Vidal de la Blache, que era historiador de formação, as noções de meio, modo de vida e cotidiano restringiram a visão ao abordar o local geográfico. Era a ciência do concreto, do observável, antes de tudo, a "ciência dos lugares". Apesar de não ter vingado, já que para Vidal a compreensão se restringia a localizar e comparar, abriu caminhos para a instalação da Escola dos Annales, já que a Geografia era bem considerada dentro do meio científico desde o fim do século XIX. No caso de Henri Berr, foi através da revista "Método Histórico e Ciências Sociais", em 1903, que François Simiand convida os historiadores à passagem do fenômeno individual para o social. Apesar de não evoluir, o programa de Simiand é utilizado pela Escola dos Annales no instante que resolve combater a história historicizante e promover a História Nova. Os anos 50 e 60 do século XX Em todos os momentos de sua evolução, a Escola dos Annales se adaptava às novas realidades que se apresentavam, aproveitando, por exemplo, as conseqüências da barbárie ocorrida com a Segunda Guerra Mundial, que levou à internacionalização econômica e à necessidade de firmação de locais como o Japão, a Ásia e o Novo Mundo. Nos anos 50, a escola esbarrava em mais um impasse: o avanço das ciências sociais e a tentativa de Lévi-Strauss em deshistoriarizar a história, de não mais individualizá-la, de colocar a etnologia como a grande descoberta da forma de funcionamento do espírito humano. Nascia a Escola do Estruturalismo. E é justo neste contexto que a Escola dos Annales contou com a colaboração de Fernand Braudel, que opta em fazer uma nova leitura desse enfoque, dando caráter estrutural às linhas históricas, pretendendo a síntese, e orientando os historiadores dessa geração a novos rumos, enfim, conferindo um papel central à História. É importante destacar a importância do estudo da demografia e das estatísticas nos anos 60 não se fez suficiente, numa fase em que o levantamento de dados não era relacionado e se voltava apenas à Era Moderna (séc. XVI-XVIII), comprometendo a leitura dos mesmos na produção histórica, além de colocar de lado os períodos referentes à Antigüidade e à sociedade contemporânea. A Nova História Atualmente, os seguidores da Nova História se preocupam com a questão totalitária, globalizante, que é recusada pelos adeptos da Escola dos Annales. Pierre Nora, que criticou ardentemente o pensamento de François Dosse com relação às suas críticas à escola, acabou admitindo, posteriormente, a necessidade de renovação dos paradigmas estabelecidos em função de uma realidade diversa e da consideração da memória já como história. Os historiadores que se preocupam com a produção de conhecimento atual, segundo Dosse, estariam seguindo para o caminho do futuro, enquanto os adeptos da 3ª geração da Escola dos Annales se negam a admitir o aspecto totalitário que deve ser enfocado na história contemporânea, insistindo em juntar "migalhas" da história sem que sejam feitas relações entre os fatos. A causalidade torna-se fundamental nesse momento de mudança e renovação da produção de conhecimento que fica para a posteridade. Sem dúvida, a Escola dos Annales, no relato de sua própria evolução revela diversos momentos importantes para a cientificidade da História, até se chegar à importância da duração (espaço-temporal) como ponto fundamental da escritura histórica atual. Fases em que até mesmo a psicologia (psico-história), a etnologia, a geografia, se enlaçaram ou não com a história para, entre convergências e divergências, chegar a um denominador comum. Segundo Dosse "a repetição de modelos passados, a falta de perspectiva do presente e um futuro opaco" já levaram, em outros tempos, a mudanças significativas dentro da própria Escola dos Annales, mas é certo que as mudanças ocorridas desde 1929 até os dias atuais demonstram que a História correu um sério risco de perder sua identidade, risco esse que certamente ela não deve incorrer mais uma vez. Bibliografia: DOSSE, François. A História em Migalhas: dos Annales à Nova História. São Paulo: Edusc, 2003. |
Proposta:
Dar relevância à exploração do saber inicial dos
discentes no que se refere ao que faz o historiador e ao que é História.
Referenciais teóricos:
FONTANA, Josef. “A reconstrução. III: a Escola dos
Annales”. In:__. História: análise do passado e projeto social. SP:
EDUSC, 1998.pp.137-154.
Depois de anos finalmente encontrei um texto elucidativo sobre o assunto. Muito obrigado.
ResponderExcluirParabéns pelo texto. Está muito bem explicado e além disso, irá me ajudar em minhas aulas da faculdade
ResponderExcluirFaço minhas as palavras da colega acima, realmente estar muito bom, bem escrito, de fácil absorção, na dose de conhecimento certa. parabéns
ResponderExcluirPerfeito,ótimos recortes,um bom resumo
ResponderExcluirParabéns amigo, ficou um texto bem elaborado e bastante claro em todos aspectos, ajudou bastante na parte do meu trabalho que é sobre a escola dos Annales. Um grande abraço!
ResponderExcluirgente, vocês me ajudaram absurdamente,tinha tudo o que eu precisava como:gerações, nova história Durkheim, maravilhoso resumão, valeu!!!!
ResponderExcluirgente, vocês me ajudaram absurdamente,tinha tudo o que eu precisava como:gerações, nova história Durkheim, maravilhoso resumão, valeu!!!!
ResponderExcluirexcelente texto. Elucida os vários aspectos, propostas e criticas em relação ao oficio do historiador. isso não apenas baseada na Escola dos Annales. muito obrigado.
ResponderExcluirGostei do texto
ResponderExcluirMaravilhoso texto, ajudou-me bastante em um trabalho sobre escola dos Analles. Parabéns!
ResponderExcluirMuito bom o texto, elucidativo, fácil entendimento e profundo nos detalhes. Parabéns
ResponderExcluirMuito bom! parabéns!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcelente texto!sem dúvidas corroborou bastante com a elucidação,de alguns pontos, meus parabéns.
ResponderExcluirExcelente texto!sem dúvidas corroborou bastante com a elucidação,de alguns pontos, meus parabéns.
ResponderExcluirO texto é bastante significativo, muito bom.
ResponderExcluirO texto é bastante significativo, muito bom.
ResponderExcluirObrigada....muio bom!
ResponderExcluirótimo texto...
ResponderExcluirMuito claro, objetivo. Excelente ponto inicial para uma pesquisa. parabéns.
ResponderExcluirMuito claro, objetivo. Excelente ponto inicial para uma pesquisa. parabéns.
ResponderExcluirMuito bom excelente
ResponderExcluirSeu texto faz com que entendamos bem mais facil,o que grandes textos acaêmicos, não conseguem faze-lo obrigado
ResponderExcluirMuito bom o texto, me auxiliou bastante em meus estudos. Obrigado!
ResponderExcluirTrês meses pagando teoria, fui aprender hoje o que foi os Annales. Muito obrigada!
ResponderExcluirComo faço para referenciar este artigo?
ResponderExcluirMuito bom o seu texto, parabéns!!!
ResponderExcluirExelente.
ResponderExcluirMuito obrigada pelo texto, excelente.
ResponderExcluirParabéns.
ótimo esse texto muito bem explicado parabéns mesmo.
ResponderExcluirEsclarecedor referentes aos detalhes envolvidos nos novos conceitos e abordagens quanto ao estudo da história da cultura.
ResponderExcluir